Dias Nebulosos



Há quem diga que os segundos mais eternos da vida são os que passamos em posição de prancha durante a fase tortuosa dos abdominais do treino nas musculações da vida, se você desconhece essa posição talvez eu te inveje, talvez você nem se importe com o fato de algumas pessoas possuírem abdômen tanquinho (e a maioria não). Mas que sorte mesmo seria a nossa se esses fossem realmente os segundos mais intermináveis, que os momentos de angústia estivessem inseridos numa simples escolha de hábitos, era só manter a distância da academia (ou fingir que esqueceu essa parte do treino).


Aquelas madrugadas eternas (e madrugadas de insônia, então), dias chuvosos num abrigo de ônibus, dias chuvosos dentro do carro com o trânsito congestionado, dias chuvosos sozinho em casa sem energia elétrica, a última meia hora do expediente (quando você odeia seu trabalho), a presença de um desafeto dentro do elevador, são tantas opções, mas talvez nada seja tão longo e duradouro quanto os temíveis dias nebulosos, principalmente quando não estamos acostumados à enfrentá-los sozinhos, e eu não estou falando das nuvens de chuva, o inverno tem data e horário a cumprir, eu tô falando das turbulências vertiginosas que vez ou outra resolvem nos assustar ao longo dessa viagem louca que é a vida humana. 


Tudo fica mais frio, o mundo começa a ter cheiro de mofo, os pés se estranham pelo contato gelado um com o outro, tal qual parede de cimento, e as nuvens cinzas parecem então mais difíceis de atravessar. Diferente dos dias solares e multicoloridos, tudo fica mais tedioso quando somos abraçados pela brisa dos dias sombrios, o tom cinza do horizonte nos rouba a visão do otimismo e nos faz esquecer do quão importante é acreditar que minutos eternos nada mais são que um pequeno espaço de tempo, tedioso, gélido e chato, porém importante, porque talvez seja dentro desse espaço de tempo que encontremos a resposta que estivemos procurando o tempo todo em que estivemos debaixo do sol, são momentos angustiantes, mas geralmente necessários, e eles passam, assim como os segundos em posição de prancha, eles passam, se passam. E quando a gente aprende a respeitar seu tempo e escutar seus ensinamentos, recebemos o retorno mais rápido do que imaginamos. E evitamos repetir os mesmos dispêndios, avançamos mais uma etapa, concluímos mais um ciclo, abrimos espaço para uma experiência nova, permitimos que surpresas (boas) novas entrem em nossas vidas, e principalmente, ficamos mais satisfeitos consigo mesmos e entendíveis com a versão que vamos percebendo de nós mesmos.

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