Expectativas x Superficialidades

Imagine que cada ser humano seja um oceano, com todos os seus mistérios, fascínios, zonas desconhecidas, perigos e prazeres, porque julgar conhecê-lo baseado apenas em superficialidades? Há quem diga perceber o melhor do outro após meia hora de conversa, há quem respeite a proposta de passar o resto da vida tentando manter um pé atrás com todo mundo, afinal de contas, só se conhece convivendo, e eu sou desse segundo grupo de pessoas. Já perdi as contas das vezes em que ouvi alguém dizer que se decepcionou com outro alguém que julgava conhecer bem, e eu não estou falando só de relacionamentos amorosos, estou falando dessa mania desleixada que a maioria  das pessoas tem de se entregarem baseadas em percepções instantâneas pra logo mais guardarem na bagagem a mágoa do decepção, decepção esta que poderia ter sido evitada caso tivesse se dado a oportunidade de tentar conhecer além do que se pode ver através de superficialidades. É o que acontece quando se entra numa conversa virtual com alguém, empolgada com a beleza de suas fotos editadas no Instagram, quando confiamos no bom gosto de outro baseado na roupa impecável que ela usa com ajuda da escolha de um amigo mais entendido, quando acreditamos em sorrisos e desculpas muito bem interpretadas por rostos angelicais que escondem corações amargurados.


“Cada ser humano é um oceano”, bela legenda pra uma foto iluminada, belo título pra livro de autoajuda, bela frase de efeito pra placa de formatura, mas na vida real deve ser aplicada com muito mais significado, o mundo aprendeu a julgar à partir de informações externas, e o mundo aprendeu que suposições são verdades absolutas, quando na verdade as pessoas estão mesmo é com preguiça de pensar antes de executar um veredicto. As pessoas são sim complexos oceanos, cheias de lacunas obscuras, espaços inabitados, regiões desconhecidas e espinhosas, mas ainda assim há quem acredite que conhece o outro apenas fazendo uma leitura rápida através da convivência no transporte coletivo, no setor de trabalho, na aula de inglês, nas reuniões da igreja, ou pior, analisando postagens de redes sociais. Quem não conhece um fã que se decepcionou com seu ídolo quando descobriu que ele não era tão perfeito quanto imprimia através de material publicitário? Quem nunca ouviu falar de alguém que terminou um namoro à distância de séculos após se encontrar pessoalmente com aquela pessoa a quem chamava constantemente de alma gêmea nos encontros furtivos e quentes proporcionados pela maravilhosa tecnologia das câmeras virtuais? Quem nunca ouviu a parábola do primo distante que conseguiu a proeza de perder uma amizade de anos após levar essa parceria pra uma sociedade empresarial e a relação quebrar diante de semanas de uma convivência tumultuada? Superficialidades, meus caros, superficialidades, acreditar no melhor das pessoas é sempre uma opção, mas não podemos fazer disso uma rota única, caso contrário, a barca afunda e teremos de procurar um culpado pra carregar a penitência de nossa ingenuidade, uma vez que estaremos protegidos pela desculpa de ter usado essa lente borrada. Será?
Oceanos são oceanos, lagos são lagos, e aquários são aquários, portanto, não trate como vidrinho de café solúvel quem precisa ser tratado como atlântico, não é uma questão de avaliar melhor um ou outro, é só uma questão de preservar a si mesmo da possibilidade de tornar-se vítima do mesmo erro seguidas vezes. Existem as pessoas transparentes, existem as artificiais, ambas extremamente complexas em suas particularidades, nenhuma entregando cópias de manual de instruções de si mesmas, então porque traçar um perfil psicológico dela baseado apenas em supostas impressões superficiais, o que você tende a ganhar com isso, o que virá de positivo tentando remar por águas rasas? Se quer conhecer de verdade, navegue, submerja, pesquise, investigue, procure entender, mas ainda assim leve em consideração que não existe essa teoria fantasiosa do conheço fulano como a palma da minha mão, pessoas são oceanos, e por isso, possuem zonas desconhecidas até mesmo por elas mesmas. Sábio é aquele que se dá o benefício da dúvida e respeita os limites do outro, sem invadir ou espalhar informações infundadas, porque entregar por completo todo o seu lote de expectativas é um direito que cabe à qualquer um, é até bonitinho olhando pelo lado romântico da coisa, mas exigir a devolução desse lote na mesma intensidade talvez seja uma ideia que atravessa os significados de ingenuidade e volta pra aba da imaturidade, de acordo com as explicitações propostas no dicionário.

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