A vida e seus inevitáveis saltos de paraquedas


Mesmo sem saber, ainda, qual é a sensação de praticar o salto de paraquedas, pelo menos uma certeza eu tenho, tem que ter um mínimo de coragem para levar o ato adiante, porque vontade nem sempre é suficiente. Risco? Tem pra tudo! De sair de casa e ser assaltado, de atravessar na faixa e, ainda assim, ser atropelado, de se cortar descascando laranja, de se engasgar com uma uva passa, o risco faz parte da prática do manter-se vivo, e nessa vocação pela vida, a gente acaba driblando as ciladas do dia a dia, e se você for religioso, ainda empurra umas responsabilidades à mais pro anjo da guarda. Saltar de paraquedas é aceitar uma incógnita, que por um lado, com grau de chances maiores, pode te fazer ter uma das melhores sensações da tua vida, e por outro, em grau bem menor, mas nem por isso impossível, cair na margem de erro e se estrebuchar no chão rumo à um fim desconhecido por todos, uns optam por não saberem o resultado, outros ignoram o medo e se jogam, literalmente.


Bonitinho né, mas até pro mais corajoso, tem que saber a hora certa de saltar, porque se perder a hora, vai perder a chance, e aí só na próxima oportunidade, que nem sempre vai existir. Não é por acaso que em determinadas situações se faz necessário a presença de alguém mais experiente para praticar o “empurrãozinho básico da águia mãe”, para se certificar que o “saltante” não irá perder o seu momento, nem pra menos, nem pra mais, tem que ser no momento certo, com medo, com dúvida, com vontade de desistir, querendo chorar, tentando recuar, pensando rápido em desculpas pra ficar, se perder o momento certo não pula mais, e quase sempre se arrepende. Se arrepende porque deixou de sentir os breves segundos que te fizeram voar, se arrepende de não poder desafiar o ar, se arrepende de não ter gritado loucamente como se fosse o dono do universo e nada pudesse te segurar, se arrepende por saber, agora, que vai ter que continuar no solo entre a dúvida de experimentar o novo, e continuar na mesmice que tanto te incomoda, se arrepende pela simples dúvida de nunca conseguir saber se teria dado certo caso tivesse dado um passo ousado adiante.
Viver na iminência do óbvio é cômodo pra muita gente, mas às vezes tem quem viva trilhando o solo apenas por mero medo de sair da zona de conforto (que nem sempre é confortável), aí passa a vida entregue aos tediosos momentos cotidianos e admirando a quem tem a coragem de ao menos se dar a chance de provar o sabor do voo desconhecido, e procuram motivos pra justificar sua eterna condição de nômade terreno. Admiram o outro que saltou e conquistou mais do que planejava e lamentam por não terem tido a mesma coragem quando ainda dava tempo, porque esse, o tempo, ele é implacável, ele dança na nossa cara e faz questão de nos lembrar diariamente que estamos continuamente envelhecendo, e com isso, vai nos enganando, nos entregando uma falsa ilusão de que idade é pretexto para abrir mão de sonhos, projetos, empreendimentos. Como já mencionei lá em cima, medo e risco tem pra tudo, pra morte inclusive, afinal de contas até para os mais espiritualizados o pós-morte ainda é um grande mistério, o medo está em toda parte, mas em todo dilema pessoal, por mais demorado que seja, chega um momento em que sabemos claramente o que queremos, e sabemos, mais ainda, o que não queremos, daí então o medo certamente não vai ser de se arrepender por ter deixado algo para trás, o medo será apenas pela eventual condição de não conseguir multiplicar os frutos sonhados para o além daquele salto. Maturidade emocional é uma coisa que a gente morre procurando, mas se tem algo que a gente tem encontrar antes da morte é a certeza de que benefícios à base de sacrifícios não fazem falta, nunca farão, existem necessidades que tornam-se desnecessárias à partir do momento em que você entende que podem se tornar mais que ausências, podem se tornar passado, e passado é nada mais que o presente necessário para te fazer quem você quer ser no futuro, apenas isso.


Comentários

  1. Super me identifiquei!!! Já dei alguns saltos de paraquedas nessa minha vida...

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