Onde dói? Na alma!
Fonte da imagem no fim do texto. |
Já faz um tempinho que
expressões do tipo “tô deprê” caíram nas graças de geral e com ela, os demais membros dessa família de doenças se tornaram peças equivocadas nas rodas de conversas
informais e postagens cibernéticas. Resumindo, banalizaram as doenças da mente,
e diminuíram à importância que deve ser dada aos portadores das dores da alma,
tornando ainda mais complicado alinhar seus sintomas e designar os cuidados
necessários àqueles que apresentam os traços característicos desses males. Uma falta de respeito com quem está em passagem por essa triste experiência, e
uma falta de respeito com os especialistas que tanto estudam na expectativa de
tentar entender e tratar tais sintomas psicológicos. Ah, você não pode comprar
aquele vestido caro da vitrine, tadinha, deve tá deprimida, tá nada, compra um
tecido parecido e leva o desenho pra costureira do bairro que a dor passa. Você
está ansioso com o vestibular, tá com síndrome do pânico, tá nada, segue as
colocações dos especialistas do Jornal Hoje, toma um comprimido de Imosec no
dia, que antes de terminar a prova o desespero passa, o buraco que abriga
transtornos do gênero da depressão de da síndrome do pânico são bem mais
profundos e escuros, só sabe o que é estar, sentir e enfrentar esse tipo de
transtorno quem realmente passa, quer tenha vencido ou não, e ninguém tem
cacife pra julgar, a não ser que já tenha estado no lugar desse outro.
Fonte da imagem no fim do texto. |
As pessoas tem o péssimo hábito de cobrar uma declaração,
uma receita medica, um quarto de hospital, as pessoas precisam de uma imagem,
elas preferem te visitar numa cama cirúrgica com os membros enfaixados do que te prestarem qualquer tipo de ajudo caso você esteja embalado na cama acometido por uma crise de depressão, trata-se
de uma necessidade horrorosa que todo ser humano tem de exemplificar uma
situação de maneira a satisfazer seu próprio eu, de conceber de forma externalizada um mal que acomete à determinado outro. “Tá sentindo palpitação? Respira, inspira, pensa em fadinhas, e corre
trocar de roupa porque você precisa trabalhar pra pagar as contas”. “Tá sem
animo pra viver, toma um banho que banho revigora”. “Tá doente de quê? Ontem
mesmo eu vi ele no supermercado”. Quem nunca ouviu uma frase dessas? Respeitar a dor da alma pra que, né, meus
caros, afinal quem pode ver a alma? Quem pode ver as cicatrizes que elas trazem
formando um mapa de toda a nossa trajetória? Quem pode ver quando ela está indo embora? Ou quando já não consegue se manter viva? Ninguém pode ver a alma do
outro a não ser que já tenha passado por um processo de amadurecimento pessoal
semelhante que lhe confira o status de companheiro de luta. Tem coisa mais
imbecil do que falar que a cura pra depressão é cartão de crédito sem limites?
Pense direitinho, as vezes a pessoa adoeceu justamente pela cobrança social de
se ter tudo aquilo que ela não precisava para ser feliz, ela se fechou naquela
caixinha e acreditou que aquilo de fato era sua real necessidade. Compras
ilimitadas até poderiam lhe proporcionar algumas horas de prazer, alguns amigos interesseiros, alguns amores comprados, mas o vácuo espiritual continuaria presente. As dores da alma não tem data, nem
endereço, e infelizmente, mesmo os melhores especialistas ainda não dominam por um todo
seus mecanismos, suas raízes são medusentes e suas consequências são desastrosas. Resta ao ser humano em sua infinita ignorância, tentar visualizar
por entre as paredes da fragilidade do outro e zelar pelo respeito ao tempo de cura de determinada doença, que talvez seja até pior do que determinada fraqueza contaminada por um
vírus ou mosquito. Não precisamos esperar uma fratura exposta para nos preocuparmos com o outro, em tempos de ódio sobre ódio, de discurso de ódio legitimando preconceitos, não vamos mais nos atermos à felicidades forjadas de redes sociais, um sorriso no rosto não quer dizer um coração tranquilo, ninguém sabe as marcas que guardam o rosto de um palhaço por trás daquela maquiagem pesada, é preciso pelo menos uma tarde de conversa para se tentar entender o que se passa no olhar de alguém, uma foto editada no instagram não quer dizer nada diz, senão aquilo queremos que as pessoas pensem de nós. Com a alma não se brinca, e já dizia a minha mãe, quem tem uma
mente sã e tranquila tem tudo, quem não tem, tá perdido.
As imagens usadas para ilustrar esse texto são da fotógrafa Katie Joy Crawford, para seu trabalho de graduação, que teve como inspiração suas próprias experiências com a ansiedade e a depressão, fazendo uma compilação de capturas envolvendo esses dramas tão difíceis de serem entendidos e expressados.
"A série — que se chama Meu coração ansioso — é composta por 12 autorretratos evocativos e legendas pessoais, que transmitem os efeitos incapacitantes da doença mental. Crawford levou cerca de três horas em cada foto, usando uma câmera remoto para tirá-las. (Buzzfeed)
Veja a matéria completa e demais fotos AQUI.
Amei seu texto. É isso mesmo.
ResponderExcluirMuito obrigado, MLuiza! ;*
ExcluirSeu blog eh lindo.
ResponderExcluirMuito obrigado, Bruno. Vou tentar postar mais textos aqui! :D
Excluir